28.7.10

Data de aniversário

Em julho de 2010, Cassandra decidiu mudar um dado em seu perfil do "Facebook" para fazer um teste. Isso envolveria uma data. Nunca havia se preocupado com seu aniversario. Alias, nao queria divulgar para nao lembrar ou lembrarem que estava ficando velha. A verdade, tambem, e' que pouco lhe importava essas questoes comemorativas; pois sempre achou uma falta de espontaneidade alguem ter que parabenizar outra pessoa pelo seu dia. Que ridiculo! Pensava. Eram pequenos atos, lembrancas, elogios pontuais que demonstrariam sua importancia e apreco por alguem. Nao um "unico" parabens por uma data fixa. Quando ja' estava no dia 3, decidiu colocar seu aniversario para o dia 7. Chegando no dia 6 estava ansiosa na espera de receber diversas congratulacoes, desejos de boa saude, felicidade, amor, enfim todas aquelas "frases-feitas" que dao forma a convencao social de parabenizar alguem. Aquilo iria, certamente, massagear seu ego. No grande dia, onde estaria completando 35 anos, como queria que aparentasse, nenhuma, mas nenhuma mensagem lhe foi lancada. Quando chegou no dia 8, resolveu colocar seu aniversario para o dia 12. O dia chegou.... Sua lista de amigos era composta por 122 pessoas.

27.4.10

1001 coisas para fazer antes de morrer: Ceviche

— 450g de filet de peixe;
— Suco de 4 limoes bem acidos;
— 2 pimentas Dedo-de-Moca (sem as sementes), cortadas em tirinhas bem finas;
— Sal a gosto;
— 4 colhéres de suco de Laranja;
— 3 tomates sem as sementes, cortados em cubinhos;
— 3 colheres de sopa de azeite de oliva;
— 3 colheres de sopa de coentro, folhas cortadas bem finas;
— 2 cebolinhas, partes brancas e verdes, bem cortadas;
— 1 pitada de Pimenta Branca;
— 1 pitada de Pimenta Cayenne.


Para complementar:
1 Cebola Roxa pequena cortada em cubinhos

Para o preparo:
Cortar o peixe em pedaços (cubos de mais ou menos 3cm)...
Numa tijela, misture com o peixe:
O suco dos limoes, as pimentas Dedo-de-Moça e o sal;
Cubra e deixe na geladeira nao mais do que 1 hora.

Antes de servir, coloque os ingredientes restantes e misture bem.

Opcional: pode ser adicionado camaroes e/ou escalopes.

25.3.10

A perda de um irmão: 13 anos

Diario: Estamos em 1997, tenho 21 anos, e um futuro "promissor" me aguarda. Sou estudante de Economia na Universidade de Brasilia (UnB), estagiario no UNICEF, e vou passar ferias nos Estados Unidos. Que mais que eu quero para minha vida?!?  Nada mal para minha idade! Eu vou para a California em julho, e meus pais, ja' estao na Europa. Meu irmao esta' em seu quarto, lendo e escutando musica, como sempre. De repente, a luz "acende", e  nos damos conta de que estamos sozinhos em casa, eba!  Festa?! Nem tanto. La' estava ele de novo em seu quarto; agora com a namorada de sobrenome "Brilhante". Daniel e' doce, inteligente, um artista e principalmente carismatico. Tudo o que eu nao sou... como posso ser como ele!?! Hoje e' sexta-feira, entretanto, ele esta' diferente. Alguma coisa em sua feicao, uma paz e alegria imensa em seus olhos, algo que nunca vi antes. Esta' preparando sua bagagem para passar o fim de semana em Pirenopolis, na casa de amigos. Da cozinha escuto ele gritar se eu quero acompanha-lo, feliz, e diz que todos seus amigos, que eu tambem conheco, estarao juntos.

10.3.10

Decidir chorar

Dois pingos no chao. Cassandra estava olhando aquelas gotas de sal. Chegou mais um momento em que precisava tomar decisoes. Alias, a vida e' cheia delas. Aquelas que fazem sorrir e, outras, chorar. Sentada a mesa de um bar, estava tomando sua cerveja. Precisava estar entre pessoas para que lembrasse o quanto era solitaria. "Headphones" no ouvido, escutava a musica "Song to the siren" da trilha sonora do filme "Candy". Cabeca abaixada, olhando, resolveu tocar aquelas lagrimas; duas. Estava quase caindo, mas levantou-se! Saiu correndo ao banheiro, mais lagrimas estavam escorrendo. Fechou a porta no toalete e sentou. Uma, duas, tres, quatro, cinco, seus olhos jorravam. Suas maos tentavam segura-las, mas nao paravam. Precisou de meia hora para secar a enxurrada. Voltou ate' sua mesa. Seu mundo aparte, musical, lhe distanciava das pessoas. Podia enganar seu sentido auditivo... Mas continuava vendo. Fechou os olhos por um minuto, e quando abriu... Lagrimas de novo! Ah, quem vai se importar comigo? Pensou. A unica "interacao" que teria naquele momento, em breves palavras, tinha sido: "Garcom, uma cerveja. A mais barata." Depois, mais simples ainda: "Garcom, a conta." O resto seria uma moca chorando em uma mesa de bar... Quem vai se preocupar? Desde que eu pague a conta, nenhum conflito vai surgir, e muito menos alguem vai notar minha ridicula existencia. Mesmo assim, Cassandra estava imaginando o quanto lhe doia aquele breve contato com o "garcon". Decidiu ficar queimando a ponta de seus cabelos enquanto chorava...

19.2.10

Jovita Feitosa e a Guerra do Paraguai

Napo estava pensando em escrever um novo roteiro de filme. Seria baseado na vida de Jovita Feitosa. Foi a primeira mulher "transgenero" da historia brasileira. Uma cearense de indole forte, guerreira, inquieta, que fez questao de se transfigurar e participar como "homem" na Guerra do Paraguai. Sim, porque a definicao de transgenero e' alguem que assume o papel social do outro sexo. E' uma transgressao de genero mesmo, literalmente falando. Naquela epoca, quem poderia imaginar ou aceitar uma mulher no exercito? Pois Jovita estava na vanguarda. Com a mascara masculina esteve presente ativamente no confronto que marcou a historia com o quase exterminio da populacao do pequeno pais. Demonstracao de forca e crueldade desnecessaria do Brasil. O mesmo que fizeram os Estados Unidos com suas duas bombas atomicas jogadas no Japao na Segunda Guerra mundial. A diferenca e' que o Brasil nao acabou somente com duas cidades, mas com a populacao inteira, quase, homens, mulheres e criancas. Bem, o roteiro do filme ja' estava ficando complicado e confuso, pois tinha muita informacao para ser passada. A simplicidade tinha que fazer a diferenca. Entao, a historia seria em torno da questao da mulher que precisou "virar" homem para poder participar da guerra, mas acabou fazendo parte de uma historia de crueldade do mais forte sobre o mais fraco. Na sua volta ao Ceara,  arrependiada de seu passado, tentou ser "feminina" novamente. Napo tinha perdido o nexo de suas ideias. A noite seria longa. Precisava beber mais...

12.2.10

Manual de Sabotagem: limpeza

A preocupacao de todo empresario do ramo de alimentacao nao e' necessariamente com a limpeza, mas com a fiscalizacao da vigilancia sanitaria, o que pode ocasionar a perda de sua licenca. Entao, tenta manter o padrao exigido atraves do treinamento no dia-a-dia de seus funcionarios sobre como e o que deve ser limpo. O desempenho das tarefas e' um processo repetitivo que aos poucos vai sendo assimilado, e por fim, se torna rotina. Ah, isso e' muito facil, e' trabalho bracal mesmo, pensava Garcia. E mais uma vez, como a confianca mutua ja' era denominador comum, o patrao nao realizava uma fiscalizacao tao rigida sobre seu cozinheiro. Enquanto estivesse aparentemente ganhando dinheiro, certas prioridades passavam para o segundo plano. E como a fiscalizacao da vigiliancia sanitaria era um acontecimento virtual, Garcia poderia relevar a limpeza. Ela seria feita, mas somente para os "olhos" do patrao.

10.2.10

Manual de Sabotagem: introdução

A introducao de maquinas nas fabricas durante a revolucao industrial foi um processo lento e doloroso para os trabalhadores. Primeiro porque substituia o trabalho manual pelo mecanico, e principalmente porque diminuia drasticamente o numero de trabalhadores nas fabricas. Isso gerava mais lucros para os capitalistas, e tambem lhes dava mais poder de compra de "estoque humano". Ou seja, os empresarios podiam pagar menos, logicamente porque a oferta de trabalho estava diminuindo. A mesma fabrica que antes empregava 500 trabalhadores, agora emprega somente 250. O que faziam os desempregados, entao? Caiam literalmente na rua da amargura. Dai' surgiu a palavra "sabotagem" que e' derivada de "sabot", tamanco ou sapato em frances. Esse movimento surgiu inesperadamente na Franca, quando os trabalhadores alienados jogavam seu sapatos na engrenagens das maquinas, provocando a quebra, e logico, perda de lucros. Garcia foi convocado para fazer um servico de sabotagem moderna, ou guerra de inteligencia. Teria que trabalhar na cozinha de um restaurante durante um ano para escrever um manual de como acabar com o lucro alheio atraves da exploracao capitalista. A intencao era fazer um compendio de acoes pontuais para destruir um empreendimento capitalista, no caso um restaurante. Essa ideia era da ala mais radical do partido. Garcia foi contratado para trabalhar como cozinheiro. O plano seria primeiramente ganhar a confianca do patrao. Isso seria ate' natural, pois dentro do processo de supervisao de seu trabalho, ele estaria dando sempre o exemplo de perfeicao. Por exemplo, a condicao sine qua non de qualquer empresario e' a maximizacao dos lucros, cortando os custos. Na preparacao de sanduiches existia uma tabela. Tres roledas de tomate, uma colher de cha de maionese, duas fatias de bacon, e uma folha de alface. A confianca seria justamente conquistada porque o patrao ao fiscalizar o trabalho de seu empregado, ficava impressionado com o desempenho perfeito da tarefa. Depois de algum tempo, quando ja' criado o elo mutuo, a fiscalizacao que antes se fazia necessaria, agora nao existe. Por que? Ele e' exemplar! Pois a partir dai' que o terrorismo comecava. A unica condicao do manual seria que todo ato terrorista seria provocado em beneficio do consumidor. Aquele mesmo sanduiche que tinha um custo de producao de 5 Reais com as mesmas rodelas de tomate, continuava o mesmo preco. Mas, agora, poderia variar de acordo com o humor do terrorista. Mas como quase sempre estava mal-humorado, agora, o mesmo valor acomodava 8 rodelas de tomate, 4 fatias de bacon, 1 colher de sopa de maionese, e 3 folhas de alface. Virava um super sanduiche pelo mesmo preco final ao consumidor. O patrao veria seus clientes felizes, sempre comprando mais, mas nao entenderia porque seus lucros estariam diminuindo! O exemplo acima citado foi somente uma das acoes pontuais que Garcia estaria realizando para escrever o "Manual de Sabotagem" do Partido Comunista. Outras serao desenvolvidas no decorrer de seu trabalho naquele restaurante.

11.1.10

Morador de rua

Perder a esperanca na vida e' muito facil. Existem tres opcoes. A primeira e'  o esgotamento de relacionamentos pelo tempo, distancia, ou pelo simples  fato de que foram construidos por conveniencia; a necessidade ou o interesse fazia o ligamento. Depois chega a solidao. Pode-se encara-la atraves de uma vida social aparente, e confinar-se em um mundo privado. O importante nao e' ser, mas "aparentar" ser. A segunda opcao tem relacao com expectativas. A criacao de um futuro, sem realmente ter nocao de como chegar nele. A palavra do dia e'  "parabens". Nao importa se o futuro nunca se tornara' presente, mas parabenizar por algo. Depois chega o esquecimento. Que futuro aguardar nao importa, mas  somente a maneira de anuncia-lo. E a ultima opcao e' a "tentativa e erro". A comunicacao e' realizada, mas nunca alcanca seu verdadeiro alvo. Erra, porque a comunicacao e' feita com pessoas erradas, nao pela comunicacao em si. A vida e' uma constante tentativa. Acertar e' independente da vontade. Depois chega o cansaco. A constante tentativa afeta o grau de percepcao de uma forma em que o sentimento de culpa e' inconsciente. Jonas era um morador de rua.

5.1.10

Perder medos

Um livro ensinava uma forma de perder medos. Quebrar as fronteiras de seu mundo, sair de casa, do bairro, da cidade, e enfrentar o desconhecido sozinho. Para comecar a jornada, um lugar deveria ser escolhido aleatoriamente no mapa ha uma distancia, de no maximo 500 quilometros, que pudesse ser percorrida em onibus. O proposito era fazer com que a pessoa criasse auto-confianca, exatamente o que Cassandra queria para sua vida, na epoca com 13 anos de idade. Estava em quarentena devido a uma hepatite, e seu tempo era dividido entre refeicoes e leituras. Sua maior qualidade, alias, era manter o habito de ler sempre; devorava todo e qualquer livro que aparecesse em sua frente. Nesse dia, por acaso, encontrou um livro de psicologia na estante de seu pai. Behaviorismo, Gestalt, reforco positivo, negativo, era um mundo completamente novo. Mas o que lhe chamou a atencao foi  a parte que tratava da "perda de medos".

3.1.10

Morrer de amor

Cassandra estava muito, mas muito angustiada. Alguma coisa estava lhe tirando a concentracao, a visao distorcia, suas forcas desapareciam. Levantar da cama era algo extremamente dificil, pois seus bracos e pernas pesavam toneladas... Esse simples despertar, lhe custava no minimo duas horas ate' conseguir chegar ao banheiro. E depois? Pensava logo. "Tenho que reagir" era sua resposta imediata. Mas nao conseguia! Ter ido a privada foi o unico que suas forcas lhe permitiram. Voltou para a cama e encontrou o livro "Veronika decide morrer" de Paulo Coelho. A historia de uma moca que tenta se matar com overdose de comprimidos, mas nao consegue. Acorda em um hospital, e o medico vem lhe dar a noticia: a tentativa de suicidio tinha lhe trazido danos irreversiveis ao coracao, e por isso, tinha no maximo 5 ou 6 dias de vida. Vitoria! Foi a reacao de Veronika.

2.1.10

República dos Pampas

Algum tempo depois de construir os alicerces da nacao, Wonderland comecou a sofrer turbulencias provocadas por grupos paramilitares que nao queriam fazer parte da federacao. O primeiro acontecimento em sua cronologia foi marcado por um movimento guerrilheiro no Acre, patrocinado pelos americanos, que almejava a criacao da Fordlandia. A intervencao federal, apesar de tardia, conseguiu apagar a faisca que poderia gerar uma guerra. E os Soldados da Borracha foram indispensaveis para tal empreitada. Agora, um grupo separatista germinava na parte sul do pais. Um antigo Centro de Tradicoes Gauchas (CTG) se tranformou no Movimento Revolucionario dos Pampas (MRP) que buscava a independencia da regiao. Logo, a noticia foi parar no Comite Central do Partido Comunista. Precisavam investigar as causas, e principalmente os objetivos do grupo rebelde.

1.1.10

Êxodo Urbano: favela

Êxodo e' uma palavra que caracteriza o movimento de pessoas em busca de melhores condicoes de vida. Pode ser espontaneo ou forcado, mas e' dificil acreditar, geralmente, que alguem esteja saindo de seu estado natural espontaneamente. Principalmente, quando esse "estado" supoe boa qualidade de vida. Portanto, o espontaneo pressupoe uma forca por tras induzindo tal movimento.  A Inglaterra e o Brasil assistiram seus proprios exodos. Os ingleses atraves de uma revolucao, e os brasileiros atraves de uma inducao.

Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
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Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
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Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
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Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".