27.4.09

Mastigue antes de engolir!

Essa e' uma recomendacao basica para quem come muito rapido. A digestao comeca na boca, na salivacao e mastigacao. Se nao mastigar bem os alimentos, a digestao vai ser cruel. Na verdade, esse e' o nome do blog, que alias surgiu de uma memoria muito particular, e que e' muito sugestiva para a minha pessoa, pois sou muito ansioso, como muito rapido e literalmente nao mastigo, engulo! Fim de noite, eu e Italo, grande amigo, paramos para comer cachorro quente e refrigerante em posto de gasolina. Sanduiche na mao, dada a largada. Para mim nao e' brincadeira. Crianca na mao, ta' na hora de atacar. Italo terminou seu terceiro gole no refrigerante, olhou para mim, e seus olhos saltaram! O que aconteceu?!?! Me assustei mais ainda. Nada, por que? Onde esta' seu sanduiche? Aquele que estava aqui? Ja' era, meu amigo... Italo ficou boquiaberto. Ali' era o comeco de nossa amizade. Ele era psicologo e disse que iria consultar seus livros para ver se poderia me encaixar em algum "transtorno". Tenho esse problema ate' hoje... Talvez isso tenha me trazido a gastrite que me aflije atualmente? Ou sera que trouxe isso tambem desde crianca, da fase do sonambulismo, quando ja' comia engolindo? Digestao pesada, entao, tinha que caminhar, sonambulo, fazendo loucuras pela casa?

25.4.09

Boots

Garcia woke up this morning concerned about his life. Actually, he was wondering how he could fulfill his life in order to be a complete, a super satisfied "man". Maybe, this could be a general rule to humanity, he thought. It was his "soup of the day": to find the answer that was killing him from inside. Alright, he started walking to the University of Brasilia (UnB) where a lecture about The Age of Capital by Eric Hobsbawn was going to take place at the Department of Economics. All the time, scratching his left arm, thinking about "the answer", he couldn't come up to the end of it. However, walking down on the North Wing neighborhood of Brasilia, he saw a homeless begging for money... Stopped, stared that poor man for a while and turned right to watch a 12 years old girl selling candies at a stop light. That's it, I found my "soup of the day": everyone needs an occupation, something to do, a job! Garcia was so happy that he was being able to follow a track, but it was still too wide. It needed to be sharpened... A worker, for example, to be happy, needs a family, a house, a car; as anyone else. And in order to have all of this, he or she needs a job. But if he or she doesn't have a job, in first place, where is the money going to come from? Well, a "family" costs money, and "if" there is some leftover, maybe a car? Then, the successful worker can apply for a subprime mortgage and finally buy a house. The question is: Is it really what he or she wants? Hobsbawn said that the workers were taken apart from their primitive and family core. Extirpated, isolated, he became, again, Garcia. "The hairy" got back home, opened his closet, grabbed his boots and proudly screamed out the window: I am going to work today! Went out and slammed the door! But wait, he thought. Where am I going to work if I don't have I job? Well, my boots can bring me some good luck, who knows. In the Age of Capital, the author mentions the symbologies and social codes such as the worker hat, pants, boots, etc... Garcia, "the hairy", didn't have a job, a family, a house, a car, but at least, his boots!

18.4.09

O suicídio de Cassandra

Cassandra se matou. Deu certo. Tudo como planejado. Aconteceu numa tarde de Sao Paulo do dia 25 de Janeiro de 1992. Queria que acontecesse longe de casa, por isso escolheu o momento oportuno; um congresso de tradutores na capital paulista. Nao precisava de muita coisa na bagagem: uma caixa de tofranil, outra de rivotril, e uma de seroquel para rebater. Olhou na estante uma garrafa de 51 e acrescentou para ter o "cerol para passar na linha", como se diria quando era crianca. Chegando na cidade, imaginou como seria bom morrer naquela imensidao, talvez no anonimato. Nao muito diferente do que sua vida tinha sido ate' o momento. Simplesmente se jogar num mar aberto para ser abracada por um silencio acolhedor. Que bom, pensou. Encontrou um muro. Nele estava escrito: "See you soon". Isso escrito aqui? Pensou. Bem, alguem deve ter deixado para eu traduzir. Se ajoelhou ali mesmo e comecou a abrir as caixas e tomar o aguardente a goles de galope ate' termina'-lo. Ja' totalmente entorpecida, e cada vez mais deprimida com a situacao, nao satisfeita com a lentidao dos comprimidos, quebra a metade da garrafa no chao. A partir desse momento, a moca comeca a se talhar nos dois ante-bracos. Da altura do pulso, subindo ate' um certo ponto que de tanto sangrar, e ja' totalmente "virada", desmaia. Fica sangrando por mais 6 horas ate' finalmente morrer. Aquela tinha sido sua quinta tentativa de suicidio. Uma semana depois Cassandra acorda em um quarto sem ter a menor ideia de onde estava. Olha ao seu redor para analisar o ambiente e ve na mesinha de cabeceira um livro de Nietzsche: Vontade de Potencia. Ela estava em uma clinica psiquiatrica e o livro tinha pedido antes de receber eletrochoque e estar com a idade mental de uma crianca de 12 anos de idade. Seu suicidio teria acontecido se nao fosse "tentativa", por isso, esta' planejando o proximo.

17.4.09

The White Masai... wait, white?

There is something you might forget to hide about yourself (if you want to) besides your color or ethnicity: your cultural background. Carola is a White Masai. But "Masai" is supposed to be black, isn't it? So what? She wants to be one, and that's it, period! Okay, Pablo is a Latino and wants to become "Paul", a "cool" looking "white" guy. So, he first changes his name to Paul. But he still has a Latino face. Alright, plastic surgery on him! Now, he has a name and face of a white guy, finally. But wait, he has a different swing when he walks, and his body language is outstanding when he talks. That's Pablo! It's not exactly what happens to Carola, but it is just a metaphor to explain how dangerous the culture factor can be, and most of all, the interference of another culture in someone's behavior. Masai is one tribe in Kenya where warriors are very proud to be part of it. We are talking about a white, blond woman from Switzerland who gives up(poor girl) her comfortable life in order to build up a family with an African man in a Masai tribe. Ridiculous film which gives a point of view from the "white European" perspective.

Film directed by Hermine Huntgeburth

9.4.09

Semana de Arte Moderna

Era um momento especial na historia brasileira que ficaria marcado para o resto de nossas vidas, ou pelo menos, pelo resto das vidas de um grupo seleto de pessoas que se diziam "modernas" e "autenticas": a Semana de Arte Moderna. Garcia tinha sido convocado pelo Partido para participar como "observador", pois no dia primeiro de maio estariam inaugurando o Comite Central Comunista no Brasil. Como a verba era curta para mandar um membro do Partido para a patria-mae fundadora do movimento revolucionario, Uniao Sovietica, e ate' entao, no pais nao existia nenhum ponto de referencia comunista, os camaradas ainda tinham que aprender com os burgueses brasileiros a instaurar um movimento "internacionalista". Que triste fim, imaginou de imediato o Garcia. Principalmente quando recebeu as instrucoes previas para se preparar, 5 dias antes do coloquio. Tinha que pesquisar sobre a vida do diplomata Graca Aranha, e ler seu livro chamado Canaa, pois ele estaria fazendo o discurso de abertura. Entretanto, no percurso de suas leituras foi descobrindo que tudo parecia mais internacionalista do que aparentava; o veu nacionalista era o lado populista, e como sempre, todo movimento - e o burgues nao poderia deixar de ser diferente - era, pelo menos, universalista. O Garcia se colocou na pele daquele diplomata engravatado que passou mais da metade de sua vida fora do pais, que escreveu um fabula de um imigrante alemao no sudeste do pais, e que vem fazer um discurso de abertura da "Semana de Arte Moderna", falando de "Antropofagia", e sei la' mais o que... Dizer que o Brasil tem que se voltar para "dentro de si", criar vontade propria, etc.... Existe mais contradicao do que isso?! Garcia olhou a programacao na cartilha e viu algo interessante: um tal de "coffee break". Opa, deve ser comida com cafe'. Vou encher a barriga e sair fora, pois estou de saco cheio desse papo de "Arte Moderna". Saiu do Teatro e avistou um jornal no chao: estava escrito 1922.

8.4.09

The past continuous of “City of God”

A Brazilian film maker predicting what would be his young son’s intriguing question said: “In 20 years from now, when my son asks me: Dad, what was Rio de Janeiro or other large Brazilian cities like? I’m going to tell him: look, why don’t you read City of God, it’s all there, you know what I mean?”. The novel he mentions is the result of an extended research of the housing project above mentioned. The research took about 8 years over the organization of drug traffic that eventually started up a war in the 1970-80’s in a neighborhood named City of God in Rio de Janeiro, Brazil. From researching to writing and publishing the book it took a total of 10 years. Nonetheless, by the year of its publication, 1997, the book's author was so impressed by a film director’s enthusiasm and ideas that he decided to turn his book into a film as well. In one scene, a petulant boy begs for a gun that would seal his membership into a gang. He says: “I smoke, I snort, I’ve killed and robbed”, but then he finally puts a period on the talking: “I am a man”. This new recruit runs to join one of the top ranks of armed children struggling through the City of God. The cruel reality shown on the screens reveals a social currency which is still very current nowadays as well. As a result of the astonishing scenes based on real facts, the film was selected to the Cannes Festival 2002 and the Academy Awards 2004. Twelve years after the first publication of the famous book City of God, the story is still so current that there is no need for a new edition, believe me. A common sense tells us that history can be repeated, and when your son asks you “what was Rio de Janeiro or other large Brazilian cities like many years ago?”, you don't need to tell him about the book nor the film: turn on the tv and watch the local news!

4.4.09

Terminal 4 JFK

Napo tropecou numa mochila em frente ao balcao da TAM no terminal 4 do aeroporto JFK. Muito estranho, pois aquela cena parecia um deja-vu. Espera. Aquilo estava acontecendo, e aquela era sua mochila. Mas onde estava o resto de sua bagagem? Tudo comecou com um acido tomado um dia anterior no trajeto ate' o aeroporto. 5 de abril, voo previsto para as 21:40 horas de Nova York para o Rio de Janeiro. 3 horas da tarde foi o horario que o servico de traslado lhe buscou no hotel. Chega no aeroporto, documentos em maos, cartao de embarque, mochila, tudo despachado, que bom. Na medida do possivel, estava tentando curtir sua piracao, relaxado; distorcoes visuais, ate' entao, sob controle. Sentado, aguarda a chamada de seu voo... Entretanto, o pesadelo vai se aproximando, e o controle de seus sentidos vai lhe escapando de tal forma que comeca a sentir-se desidratado, tonto, e quando percebe que nem se levantar mais vai conseguir, pede auxilio a uma servente que passava. A moca apavorada com a expressao facial do rapaz, pensou o pior; e era mesmo: crise de panico! Em seguida, bem roteiro cinematografico estilo americano, aparece um policial para checar a documentacao, perguntar o que estava fazendo no pais, onde estava, etc. tipico para coloca-lo em situacao delicada, e pimba, algema nele! Jota estava em situacao irregular no pais, totalmente alucinado, vendo dragoes e lesmas imaginarias, tentando desesperadamente lembrar se tinha despachado suas malas. Por sorte o policial nao se aproximou o suficiente para ver a pupilas dilatadas de Napo, e se contentou com as respostas sinceras do rapaz acometido pela crise de panico. Nessa altura do campeonato, ele ja' tinha pulado para o outro lado do balcao da TAM e agarrou no braco da chefe de tripulacao: por favor, me coloca nesse aviao, ta' na hora de voltar pra casa! Nao adiantou nada seu apelo. Ja' estavam lhe aguardando uma equipe medica e o mesmo policial para lhe escoltar ate' o hospital mais proximo do aeroporto. A comissaria lhe perguntou se tinha dinheiro para pagar pelo atendimento medico. Napo pensou nos 2000 dolares que tinha guardado na mochila e disse: claro que nao tenho dinheiro, eu nao vou pagar para ser atendido, por favor eu estou bem, me joga dentro do aviao que ai' vou estar em territorio brasileiro! Puff, olhou na sua direita e viu um dragao alado passando, que susto, pensou! Nada feito disse a comissaria. Voce vai ter que pegar o voo de amanha que sai as 9:25, pois esta' sem condicoes de embarcar agora. Duas horas depois ja' estava perambulando nos corredores do aeroporto tentando encontrar novamente o balcao da TAM para o embarque que se daria dentro de "10 horas", mas seria uma longa busca. As palavras ja nao lhe saiam mais de sua boca. Suas maos criaram movimentos proprios, deformadas pelas veias saltadas. Ficava horas no banheiro observando seu simples urinar, e quando se dava conta, ops, estou entrando "numa onda errada", sai fora!, dizia para si mesmo. 6:30 da manha olhou no relogio deitado no chao em frente ao balcao da TAM do terminal 4 do aeroporto JFK. Tirou da mochila: passagem Nova York-Rio de Janeiro, 6 de abril de 2008.

Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
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Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
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Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
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Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".