19.8.09

Conto ou Crônica?

Ha' muito tempo atras, uma amiga, formada em Letras, me explicou a diferenca entre Conto e Cronica. O primeiro e' aquela coisa chapada, curso de redacao da professora Emilia. Algo em torno de 15 a 20 linhas com comeco, desenvolvimento, e fim. Simplificando, parece algo que tem que ter pelo menos um esboco mentalizado. E' como aulas de Geometria Descritiva onde tudo deve estar devidamente encaixado em cada quadrante para chegar ate' Jose de Alencar. O segundo estilo ja' parece mais aquela pessoa que acorda de manha com vontade de comer pizza com farinha ou tacar feijoada dentro de um pao e colocar no microondas. Depois sentar a mesa e abrir um livro de Clarice Lispector.

14.8.09

Chá de Amor

Mais uma noite acordada. Nada incomum para Cassandra. Mas dessa vez, alem da costumeira insonia, a moca estava extremamente carente. Muito, mas muito melancolica. Nao estava chorando, ainda. Lembrou da cancao "Miss Sarajevo", um dueto de Bono Vox com Luciano Pavarotti, e deu um soluco.... "Is there a time to turn to Mecca..." Tinha que acabar com aquilo. Precisava de amor! Ja' sei, vou ate' o supermercado comprar um cha'; pensou. 20 minutos depois ja' estava ela em frente a prateleira escolhendo o "melhor" entre os milhares. Pegou um de camomila e perguntou com olhar serio para a atendente: Por favor, esse tem "amor" nos ingredientes? Do outro lado do balcao, sem entender bulhufas, respondeu: Tenha paciencia! Pegue seu cha' e me deixe em paz! Ninguem entendia as necessidades de uma pessoa carente no meio da madrugada. Talvez, somente um abraco ajudasse. Uma palavra de afeto. Enfim, Cassandra voltou para casa, esquentou a chaleira, tomou sua erva e ficou esperando algum sentimento "aparecer". Deu outro soluco e lembrou de Roberto Carlos... "Voce e' meu amigo de fe', meu irmao camarada...". E assim passou toda a madrugada sem dormir. Alguns cochilos e' verdade. Lembrou que era sexta-feira; dia que costumava almocar na casa de sua avo'. Uma pessoa incrivelmente lucida, sincera e simples. 83 anos de idade. Expressao literal de "madre superior". La' estava Cassandra sentada ao lado de sua avo'-amiga-mae-tudo, conversando, admirando, almocando aquela comida tao simples saudavel e saborosa. Um momento como esse e' sempre guardado com muito apreco. As palavras de uma senhora de tanta idade, musicadas com tanta firmeza e lucidez, e' memoravel. No final da refeicao, aquela senhora elegante se levantou e trouxe um par de xicaras. Ela disse em seguida: "Minha filhinha, eu fiz esse chazinho para voce tomar. Voce parece estar muito cansada. Depois, va' se deitar, que eu arrumei sua cama, viu?" Lhe deu um beijo na testa, e ficou tomando seu cha' sorrindo para ela.

4.8.09

Amizade X Ostracismo

Mes passado Franz ficou chocado com a resposta de um amigo ao seu email de felicitacoes de aniversario. Dizia o seguinte: "Obrigado por ter lembrado do meu aniversario, você foi o unico. Valeuuuu Muito. Por isso que você é o meu melhor amigo. Um grande abraço do seu irmão." A resposta vinha de uma pessoa especial, amizade de exatos 22 anos. Por isso a palavra "irmao" vinha tambem acompanhada com muito carinho. Essa pessoa significa muito para ele e a distancia se encurtava muito, mas muito mesmo, quando ambos sabiam que o sentimento de amizade era reciproco. E isso era o que importava. Entretanto, Franz lembrou de uma palavra e de um personagem da historia brasileira: Ostracismo e Lucio Costa. Talvez, os unicos, que realmente o reverenciem pela grandiosidade de sua obra, sejam alguns estudiosos paisagistas e arquitetos, pois de resto, a perola foi esquecida dentro da ostra. O problema de Franz e' que ele pensava que seu amigo era "especial" para certos camaradas tambem. Claro que nao e' um simples "feliz aniversario" que vai dizer "o que" e' ser amigo ou nao. Mas estamos tratando da "simbologia" do ato. Esse amigo especial e "unico", por ironia do destino era aquele que lembrava de telefonar para todos os outros no dia do aniversario... Por que sera' que somente lembramos "das" coisas importantes na nossa vida e apagamos as outras? O apelido dele e' Cebola. Nasceu no dia 02 de julho de 1962.

Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
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Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
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Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
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Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".