5.1.10

Perder medos

Um livro ensinava uma forma de perder medos. Quebrar as fronteiras de seu mundo, sair de casa, do bairro, da cidade, e enfrentar o desconhecido sozinho. Para comecar a jornada, um lugar deveria ser escolhido aleatoriamente no mapa ha uma distancia, de no maximo 500 quilometros, que pudesse ser percorrida em onibus. O proposito era fazer com que a pessoa criasse auto-confianca, exatamente o que Cassandra queria para sua vida, na epoca com 13 anos de idade. Estava em quarentena devido a uma hepatite, e seu tempo era dividido entre refeicoes e leituras. Sua maior qualidade, alias, era manter o habito de ler sempre; devorava todo e qualquer livro que aparecesse em sua frente. Nesse dia, por acaso, encontrou um livro de psicologia na estante de seu pai. Behaviorismo, Gestalt, reforco positivo, negativo, era um mundo completamente novo. Mas o que lhe chamou a atencao foi  a parte que tratava da "perda de medos".
O inicio de tudo, como descrito, estaria pegando um onibus para um local desconhecido, pessoas novas, pouco dinheiro no bolso, e ver ate' onde sua coragem o levaria. Parece algo absurdamente simples para um adulto, mas se pensar bem, pode ser exatamente o oposto para uma crianca. Fechou os olhos e apontou no mapa: Alto Paraiso de Goias. Ja' recuperada da doenca, comecou a arrumar sua mochila para partir em seguida. Disse aos seus pais que iria dormir na casa de uma amiga, e uma hora depois ja' estava em direcao ao "paraiso". Chegando la', ficou aterrorizada. Ja' era noite, e agora? Bem, nao conseguiu sair da rodoviaria... O resultado foi abrir seu saco de dormir e deitar ali mesmo. Uma faca escondida lhe garantiria a seguranca, assim acreditava. Por sorte nada aconteceu, ufa, passou no primeiro teste. Estava pronta para a segunda etapa, e para tanto, simplesmente caminhou por um estrada de terra em direcao ao mato. Sim, acreditava que alguma coisa iria descobrir e aquele caminho, certamente, tinha um destino. Quem sabe nao era mesmo o Paraiso? Mas, pelo contrario, andava, andava e nada aparecia. O suor comecou a escorrer e a boca a secar de tanta sede. Depois de horas caminhando, pensou que iria morrer, pois se fizesse o percurso de volta, nao aguentaria de cansaco e desidradatacao, e se continuasse, para onde? Mas um casebre apareceu para sua salvacao! Agua, por favor, foi unico pedido... Aquilo tudo foi suficiente para ela. Voltou para Brasilia no mesmo dia, e ficou muito tempo sem sair de casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
____________________________________________

Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
____________________________________________

Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
____________________________________________

Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".