25.1.09

A Virgula


Franz acordou disposto a descobrir o que faria, ou melhor, o que precisaria um homem para se tornar realizado na vida. Estava caminhando em direcao ao auditorio da Faculdade de Economia da Universidade de Brasilia (UnB), pois ali assistiria uma palestra sobre a Era do Capital de Eric Hobsbawn. Nao tinha muito tempo para chegar ao "ponto final", mas na pior das hipoteses, pensou consigo mesmo, o coloquio lhe traria inspiracao. Realmente, ja' tinha atravessado a L2, e nada aconteceu. Entretanto, pensou no tema que move a humanidade: trabalho. Claro! Todos precisamos de trabalho! Estava indo na direcao certa. Mas tinha que delimitar sua linha de pensamento. Ele, por exemplo, para ser feliz, precisaria de uma familia, de uma casa, um carro... Como qualquer pessoa comum. E para ter tudo isso precisaria ter um trabalho. Se nao tiver um trabalho "primeiro", como vai ganhar dinheiro, e ter o resto, sustentar a familia?!?! Pois bem, para ter uma familia, Franz tinha que ganhar o suficiente para sustenta-la, e se sobrasse alguma coisa, poderia comprar um carro, e fazer um emprestimo para uma casa. Era isso que ele queria? Hobsbawn disse, como todos os outros comunistas, que o trabalhador foi extirpado do nucleo familiar. Separado, solitario, voltou a ser Franz. Um barbudinho levantou no meio do auditorio lotado de estudantes e disse em alto e bom tom: voces esqueceram da VIRGULA! Virou-se, deu as costas ao palestrante, e saiu correndo. Todos ficaram, literalmente, boquiabertos.... Franz, chegou em casa, abriu o armario, vestiu seu par de botas, encheu o peito de ar e foi trabalhar. Mas trabalhar aonde se ele nao tinha um emprego convencional, ele pensou consigo mesmo novamente?!?! Bem, as botas poderiam lhe trazer boa sorte, quem sabe. Na Era do Capital, o autor explica certas simbologias e codigos sociais como, por exemplo, o chapeu do trabalhador, a calca, as botas, etc... Franz podia nao ter tudo o que e' esperado de um trabalhador tipico assalariado, mas pelo menos tinha suas botas.

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Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
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Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
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Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
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Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".