24.10.09

Wonderland X Neverland

Garcia abriu o jornal de domingo na secao dos classificados e viu dois anuncios: um dizia para vir morar na "Neverland" e o outro na "Wonderland". O primeiro era tentador, entretanto exigia muita motivacao, e esforco para iniciar as obras. Era um pais distante que buscava imigrantes para povoar seu territorio, e para tanto, oferecia 16 hectares de terra, vias publicas, iluminacao e estradas de ferro ja' montadas para o abastecimento dos grandes centros. O restante seria pago com os impostos publicos gerados pela receita do trabalho humano justamente advindo desse loteamento. Nos primeiros 5 anos, o imigrante teria somente o direito de posse sobre o terreno, e depois somente seria seu proprietario. O trem passava uma vez por semana para recolher a producao local, e levar ate' a capital do Estado. A estrada de ferro havia sido privatizada ha' 5 anos, e portanto, o escoamento da producao nao sofria interrupcoes ja' ha' algum tempo. O "Neverland Bank" oferecia emprestimos a longo prazo com taxas fixas. Aos poucos foi-se formando uma comunidade de nome estranho, Quakers, que foi, inclusive construindo suas proprias escolas. Depois chegava a vez da "Wonderland". Era um pais das mesmas proporcoes, mas com incentivos distintos. O imigrante recebia uma doacao vitalicia de um latifundio. Em contrapartida, teria que fazer um investimento inicial para comecar , de imediato, uma producao em grande escala e em sistema de "plantation". O banco local oferecia emprestimos a juros baixos, e o pagamento poderia ser feito tanto em especie como em "commodities". Nessa modalidade, o novo residente deveria estar preparado para seu novo sistema produtivo e tudo seria em grandes proporcoes, alem, claro, de voltado para o mercado exterior. Portanto, como quase toda producao seria voltada para fora, o Governo ofereceria milhares de incentivos fiscais para a importacao de produtos, inclusive humanos (escravos). Nao haviam estradas pavimentadas, iluminacao publica, nada. Os navios ancoravam nos portos uma vez por mes para recolher a producao local e trazer os produtos importados para abastacer as fazendas. Apos 10 minutos cocando a cabeca, Garcia pegou o jornal e foi correndo ate' o comite central do Partido Comunista. Aquilo tudo foi demais para sua inteligencia! Queria saber se algum daqueles paises teria alguma caracteristica "socialista" que poderia ser utilizada para desencadear uma revolucao, pois entao, estaria imediatamente emigrando para um deles para incitar as massas populares! Ele chegou no velhinho barbudinho, presidente do partido, sentado, que respondeu: pega um cidadao de "Neverland" e coloca para passar uma temporada em "Wonderland" que ele vai te dizer em dois tempos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
____________________________________________

Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
____________________________________________

Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
____________________________________________

Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".