12.2.10

Manual de Sabotagem: limpeza

A preocupacao de todo empresario do ramo de alimentacao nao e' necessariamente com a limpeza, mas com a fiscalizacao da vigilancia sanitaria, o que pode ocasionar a perda de sua licenca. Entao, tenta manter o padrao exigido atraves do treinamento no dia-a-dia de seus funcionarios sobre como e o que deve ser limpo. O desempenho das tarefas e' um processo repetitivo que aos poucos vai sendo assimilado, e por fim, se torna rotina. Ah, isso e' muito facil, e' trabalho bracal mesmo, pensava Garcia. E mais uma vez, como a confianca mutua ja' era denominador comum, o patrao nao realizava uma fiscalizacao tao rigida sobre seu cozinheiro. Enquanto estivesse aparentemente ganhando dinheiro, certas prioridades passavam para o segundo plano. E como a fiscalizacao da vigiliancia sanitaria era um acontecimento virtual, Garcia poderia relevar a limpeza. Ela seria feita, mas somente para os "olhos" do patrao. A higiene basica no manuseio, cozimento e acondicionamento dos alimentos era, sim, respeitada. A intencao do manual nao era tao radical nesse ponto. Ressaltava somente a importancia de menosprezar totalmente a "lideranca" do patrao, e aos poucos deteriorar seu estabelecimento. Exemplos do que deveria se limpo na cozinha: armarios,  estantes, geladeira, forno, fogao, lustrar as panelas, etc. Geralmente comecava nos armarios e estantes. Retirava todos os utensilios da primeira fileira e limpava devagar, ate' o chefe entrar na cozinha. Acelerava um pouco e mostrava servico. Em um restaurante movimentado, algumas acoes tem um efeito deja-vu. Ou pelos menos Garcia tinha que saber jogar com isso. Ah, voce ja limpou essa parte? Claro que limpei, voce nao viu? Ah ta', agora estou lembrado... Na verdade, o que ele viu foi a limpeza da "primeira" estante. O resto foi assimilado como "feito" tambem. Uma semana depois, comecava da segunda fileira. E assim por diante, ate' ter finalizado todas as estantes; o que durava umas 5 semanas. Depois chegava a geladeira. Retirava o conteudo da primeira prateleira, e o resto somente passava um pano. Tarefa bem cumprida por sinal. Nas demais, Garcia sempre dava uma de "cachorro morto", e ficava so' aguardando o comando. Por exemplo, lustrar as panelas. Que coisa mais sanal. Uma vez por mes e olhe la'! Nao deveria, por sinal, haver nenhum tipo de economia de produtos de limpeza. Detergente, sabao, esponjas, deveriam ser utilizados sem perdao.

Um comentário:

  1. adoro esses textos sobbre coisas banais que acabam se tornano tão grandes...eu acho...coisas massacrantes que a gente não inenta...apenas faz...porque mandam.;..inventar em cima....sei lá, é escrever: inventar em cima do banal....

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Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
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Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
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Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
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Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".