4.4.09

Terminal 4 JFK

Napo tropecou numa mochila em frente ao balcao da TAM no terminal 4 do aeroporto JFK. Muito estranho, pois aquela cena parecia um deja-vu. Espera. Aquilo estava acontecendo, e aquela era sua mochila. Mas onde estava o resto de sua bagagem? Tudo comecou com um acido tomado um dia anterior no trajeto ate' o aeroporto. 5 de abril, voo previsto para as 21:40 horas de Nova York para o Rio de Janeiro. 3 horas da tarde foi o horario que o servico de traslado lhe buscou no hotel. Chega no aeroporto, documentos em maos, cartao de embarque, mochila, tudo despachado, que bom. Na medida do possivel, estava tentando curtir sua piracao, relaxado; distorcoes visuais, ate' entao, sob controle. Sentado, aguarda a chamada de seu voo... Entretanto, o pesadelo vai se aproximando, e o controle de seus sentidos vai lhe escapando de tal forma que comeca a sentir-se desidratado, tonto, e quando percebe que nem se levantar mais vai conseguir, pede auxilio a uma servente que passava. A moca apavorada com a expressao facial do rapaz, pensou o pior; e era mesmo: crise de panico! Em seguida, bem roteiro cinematografico estilo americano, aparece um policial para checar a documentacao, perguntar o que estava fazendo no pais, onde estava, etc. tipico para coloca-lo em situacao delicada, e pimba, algema nele! Jota estava em situacao irregular no pais, totalmente alucinado, vendo dragoes e lesmas imaginarias, tentando desesperadamente lembrar se tinha despachado suas malas. Por sorte o policial nao se aproximou o suficiente para ver a pupilas dilatadas de Napo, e se contentou com as respostas sinceras do rapaz acometido pela crise de panico. Nessa altura do campeonato, ele ja' tinha pulado para o outro lado do balcao da TAM e agarrou no braco da chefe de tripulacao: por favor, me coloca nesse aviao, ta' na hora de voltar pra casa! Nao adiantou nada seu apelo. Ja' estavam lhe aguardando uma equipe medica e o mesmo policial para lhe escoltar ate' o hospital mais proximo do aeroporto. A comissaria lhe perguntou se tinha dinheiro para pagar pelo atendimento medico. Napo pensou nos 2000 dolares que tinha guardado na mochila e disse: claro que nao tenho dinheiro, eu nao vou pagar para ser atendido, por favor eu estou bem, me joga dentro do aviao que ai' vou estar em territorio brasileiro! Puff, olhou na sua direita e viu um dragao alado passando, que susto, pensou! Nada feito disse a comissaria. Voce vai ter que pegar o voo de amanha que sai as 9:25, pois esta' sem condicoes de embarcar agora. Duas horas depois ja' estava perambulando nos corredores do aeroporto tentando encontrar novamente o balcao da TAM para o embarque que se daria dentro de "10 horas", mas seria uma longa busca. As palavras ja nao lhe saiam mais de sua boca. Suas maos criaram movimentos proprios, deformadas pelas veias saltadas. Ficava horas no banheiro observando seu simples urinar, e quando se dava conta, ops, estou entrando "numa onda errada", sai fora!, dizia para si mesmo. 6:30 da manha olhou no relogio deitado no chao em frente ao balcao da TAM do terminal 4 do aeroporto JFK. Tirou da mochila: passagem Nova York-Rio de Janeiro, 6 de abril de 2008.

Um comentário:

Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
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Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
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Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
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Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".