18.4.09

O suicídio de Cassandra

Cassandra se matou. Deu certo. Tudo como planejado. Aconteceu numa tarde de Sao Paulo do dia 25 de Janeiro de 1992. Queria que acontecesse longe de casa, por isso escolheu o momento oportuno; um congresso de tradutores na capital paulista. Nao precisava de muita coisa na bagagem: uma caixa de tofranil, outra de rivotril, e uma de seroquel para rebater. Olhou na estante uma garrafa de 51 e acrescentou para ter o "cerol para passar na linha", como se diria quando era crianca. Chegando na cidade, imaginou como seria bom morrer naquela imensidao, talvez no anonimato. Nao muito diferente do que sua vida tinha sido ate' o momento. Simplesmente se jogar num mar aberto para ser abracada por um silencio acolhedor. Que bom, pensou. Encontrou um muro. Nele estava escrito: "See you soon". Isso escrito aqui? Pensou. Bem, alguem deve ter deixado para eu traduzir. Se ajoelhou ali mesmo e comecou a abrir as caixas e tomar o aguardente a goles de galope ate' termina'-lo. Ja' totalmente entorpecida, e cada vez mais deprimida com a situacao, nao satisfeita com a lentidao dos comprimidos, quebra a metade da garrafa no chao. A partir desse momento, a moca comeca a se talhar nos dois ante-bracos. Da altura do pulso, subindo ate' um certo ponto que de tanto sangrar, e ja' totalmente "virada", desmaia. Fica sangrando por mais 6 horas ate' finalmente morrer. Aquela tinha sido sua quinta tentativa de suicidio. Uma semana depois Cassandra acorda em um quarto sem ter a menor ideia de onde estava. Olha ao seu redor para analisar o ambiente e ve na mesinha de cabeceira um livro de Nietzsche: Vontade de Potencia. Ela estava em uma clinica psiquiatrica e o livro tinha pedido antes de receber eletrochoque e estar com a idade mental de uma crianca de 12 anos de idade. Seu suicidio teria acontecido se nao fosse "tentativa", por isso, esta' planejando o proximo.

Um comentário:

Personagens

Cassandra: tradutora que trabalha para importante editora especializada em livros de biografia e historia. Ela e' o tipo de pessoa que nao consegue se encaixar numa vida social normal; encontra, muitas vezes, no isolamente, sua fulga, e nos livros seu refugio.

Cassandra: a translator who works for an important publisher specialized in biography and history books. She is the kind of person who cannot fit in a normal social life; she finds, most of the times, in self-confinement,
her scape, and in books, her refuge.
____________________________________________

Napo: ex-filho de militar e roteirista de cinema cuja vida foi acabada pelo alcool e drogas. Esta' em constante conflito interno consigo mesmo: perturbado, afetado. Atualmente, vive de pensao do sindicato.

Napo: ex-military-kid and film screenwriter whose life was ruined by alcohol and drugs. He seems to be always in a long-lasting and permanent state of self-conflict. Nowadays, he lives from the Union's financial support.
____________________________________________

Garcia: cobrador de onibus e membro ativo do partido comunista. Possui ampla biblioteca particular sobre o tema, tornando-se inclusive referencia partidaria. As vezes, seu fanatismo torna-se tao paradoxo que passa a ser ate' mesmo romantico.

Garcia: bus driver and member of the communist party. He became a political reference in the party due to the large collection of books in his private library. Such a fanatic with paradoxical ideas that sometimes he is called "The Romantic".
____________________________________________

Franz: editor de guia artistico-cultural. Participa de projetos pelo mundo afora, geralmente patrocinado por ONG's para atualizar e trocar experiencias. Seu constante desafio e' nao deixar transparecer sua falta de sentimento "nacionalista".